sábado, 31 de janeiro de 2009

saudades do rio

Perdeu, perdeu!
Estava anunciado o assalto! Muita calma nessa hora, gestos lentos para não assustar o cidadão, deixando clara a minha disposição em ceder tudo o que possuo, até a honra, para salvar a pele.
Mas o que ele não podia adivinhar é que eu já havia perdido muito mais do que ele poderia levar!
O que eu perdi?
Perdi um tempo que não volta mais.
Um tempo de andar despreocupada, casual, sem medo do seqüestro relâmpago e da bala perdida.
Perdi um Rio de Janeiro cheio de bossas, novas e velhas, um Rio que naufragou no turbilhão do trânsito frenético e na desconfiança sistemática de tudo e de todos.
Perdi a oportunidade de colaborar para uma cidade mais justa, enxergando o menino invisível que crescia ao meu lado, destituído de toda a oportunidade.
Hoje me envergonho de vê-lo multiplicado, na figura de milhares de outros meninos mendigos pelas ruas do Rio.
Perdi os anos passados e, com eles, os projetos para uma longa e quase interminável vida: daqui para frente, numa contagem regressiva, avalio o quanto tempo ainda tenho para fazer novos planos.
Perdi a calma que tinha, a cabecinha fresca, a memória intacta, a disposição invejável.
Onde foi que o Rio perdeu a sua leveza?
Quando foi que eu perdi o meu frescor?
Perdeu, perdeu!
Mudou o Rio. Ou mudei eu?

Angela Nabuco

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