quinta-feira, 14 de maio de 2009

o assaltante do rio maracanã

Vida difícil essa!
Correr da policia.
Ser chamado de bandido, quando só quero melhorar a distribuição de renda.
Tentar fazer cara de mau, mesmo, no fundo, sendo um merda.
Não que eu seja frouxo, não sou de amarelar, mas não consigo trucidar velhinha, nem tirar dinheiro de cego.
Mas isso não faz de mim um cara importante, respeitado na comunidade.
Naquela madrugada de domingo eu não tinha um tostão no bolso.
Chovia canivetes!
Durante a noite, nenhum ganho, nenhum bacana à vista, todos dentro dos táxis, rico é assim, não pode se molhar.
Eu já tinha desistido de arrumar algum, e andava pela calçada do rio Maracanã.
Meus tênis Nike ensopados (sorte a minha o número do pé do playboy ser igualzinho ao meu).
De longe, vi um carro andando meio sem rumo.
Era um carrão, às vezes virava para a direita, às vezes para a esquerda, derrapando na pista molhada.
-Está de porre! Pensei.
De repente ele acelerou na minha direção. Eu pulei fora, ele quase passou por cima de mim, e caiu no rio.
-Vou tirar esse otário de lá, limpar os bolsos dele e cair fora.
Entrei no rio, e espiei para dentro do carro: o sujeito estava apagado, a cabeça pendurada para o lado.
No banco de trás, uma criança aos berros.
Tirei a menina do carro e a coloquei na calçada.
Falei para não sair dali e parar de gritar, senão eu ia apertar o pescoço dela. Ficou quietinha, engolindo em seco.
Entrei de novo naquela água cinza e tentei soltar o cinto de segurança. Difícil, o nível do rio estava subindo, a correnteza me puxava.
Quando consegui, agarrei o sujeito pelo pescoço e o puxei até a margem,
Olhei na direção da menina: ela tinha sumido!
A chuva caía sem dó nem piedade, para todos os lados, até de baixo para cima!
Onde será que a garota tinha se metido?
O cara desacordado na calçada era um prato cheio: roupa boa, devia ter uma grana no bolso.
Eu já ia começar a revista, quando ouvi a sirene da polícia.
-Os caras me pegaram com a boca na botija, nem adianta correr! Pensei.
Saltaram do carro com a menina.
-Foi ele! Foi ele que salvou a gente!
E correu para o pai, que tentava se sentar, zonzo, sem entender o que tinha acontecido.
Logo atrás veio um carro de reportagem da Globo, saído não sei de onde, no meio do temporal.
Daí em diante já dá para imaginar: virei manchete de jornal, o herói do rio Maracanã.
Molhado dos pés à cabeça.
Sem um puto no bolso.
Sem cara para enfrentar o pessoal da comunidade.
Antes de cair fora, o bacana me abraçou, agradecido.
Eu olhei fundo nos olhos dele e disse:
- Me aguarde num dia de sol!

Angela Nabuco

Nenhum comentário:

Postar um comentário