domingo, 8 de fevereiro de 2009

inveja branca

Se negra eu tivesse sido
De olhar verde, comprido
Sinuoso, sedutor
Traria preso o cabelo
Trançado com muito zelo
Por mãos que sabem do amor.
De cem contas coloridas
Com fitas por mim tecidas.
Teria lindos colares
Ao colo atraindo olhares
Um generoso decote
Na cintura um laçarote
Pousado sobre os quadris.
Quem sabe um jeito de atriz.
Bem coladinho um vestido
Que talvez tivesse sido
Para algum corpo menor.
Teria a lábia de cor
Tamancos de salto alto
Muita cadência no asfalto
No andar bamboleante.
Segura, firme, falante
De cima olharia o mundo
Que tornado vagabundo
Ao certo se curvaria.
Pura malícia eu seria
Quando eu sorrisse feliz
E os homens pedindo bis.
Mas Deus não dá asa a cobra
Não tenho carne de sobra
Não tenho a cor do pecado
Não tenho samba gingado.
Pra ser assim sem defeito
Teria que ter no peito
Um coração de criança
Uma voz suave e mansa
Que a vida faria doce
Mesmo que dura fosse
Daria a tudo um sabor
Se negra eu tivesse sido
De olhar verde, comprido
Sinuoso, sedutor.

Angela Nabuco

3 comentários:

  1. Passeando pelo seu blog e descortinando assim, bem devagarinho, este mundo de imagens e palavras que, se não dizem tudo de você, porque toda linguagem esconde, nos mostra a fascinante face da artista e sua plasticidade. Penso que a mulher que você descreve mora em todas nós, essa feminilidade que às vezes se esconde entre nossas dobras.
    Um abraço,
    Ana

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  2. Ana a força da feminilidade é surpreendente para nós mesmas! Muito me orgulho de ser mulher!

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  3. eu tambem esso ai gente
    anne

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