
azul piscina
azul
todo cetim e todo brilho
minha mãe
mergulhada no vestido
anos sessenta
o baile
luvas de pelica
perfume fleur de rocaille
ligas segurando as meias
teias
de tão finas
a festa escrita no vestido
nele
o champanhe derramado
o suor da valsa impregnado no tecido
o carimbo em forma de lábio
do batom
hoje não mais a festa
em outro calendário
contados dias meses anos
a cabeça velha
olhando os panos
se enche de lembranças
morto
o vestido ao chão sem o seu corpo
II
Volta a si
como de um sonho
medonho
é morrer pelas lembranças
olha à janela
alguém apressado
se move em zig zag
como dança
vê outro azul
piscina
no céu de brigadeiro
é janeiro
como tantos outros refletidos
nos seus olhos velhos embaçados
igual em tudo aos tempos idos
é verão na praça
o casal de namorados
trava sua batalha de beijos
e de brigas
duas amigas par e passo
e crianças
pequenas esperanças
brincam
outro alguém vestindo azul
espia da janela
bela
como ela
no passado
quando se volta
olha o vestido
no chão do quarto
derramado
e não comete engano
quando sente
tem trinta anos
novamente
a minha mãe
Angela Nabuco
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