terça-feira, 27 de janeiro de 2009

só para algumas mulheres

Se você se lembra de quando ninguém usava cinto de segurança ou falava de poluição
Se você se lembra da construção de Brasília
Se você assistiu ao seriado de TV do Rintintin
Se você fez um caderno de pensamentos e o guarda até hoje como precioso fóssil
Se você assistiu pela TV ao homem pisando na Lua
Se você completou um álbum de figurinhas
Se você fez coleção de “plásticos” (aqueles de propaganda para colar no vidro da janela)
Se você foi leitora do Pererê ou de Monteiro Lobato
Se você se lembra do dia da revolução que implantou a ditadura militar
Se você não se esqueceu das festinhas ao som dos Beatles usando um vestido Op-Art
Se você usou cílios postiços
Se você fazia touca no cabelo (e virava a touca)
Se você se bronzeava (até demais) com Rayto de Sol e ainda se lembra do perfume Pinho Silvestre
Se você viu florescer a MPB, desde a inocente Jovem Guarda, passando pela Tropicália e tantas maravilhas mais
Se você chegou tarde, de mansinho para o seu pai não perceber (a sua mãe já sabia, é claro)
Se você entrou na “boite” com o coração acelerado por ser menor de idade
Se você dançou a liberação da mulher ao som de Rita Lee
Se você cantou as músicas de protesto e viveu a opressão, imaginando como seria ter liberdade
Se você ouviu a recomendação dos pais de não falar nada que a comprometesse
Se você foi educada para ser uma boa menina, moça decente, esposa e dona de casa exemplar, e nunca transgredir
Se você se vestiu à moda hippie, com calça de cintura baixíssima e boca de sino
Se você viu o eclodir das drogas, tendo aderido a elas ou não
Se você viveu o nascimento da pílula
Se você teve que escolher entre o Clássico e o Científico
Se você estudou demais para o vestibular
Se o seu primeiro carro foi um fusca
Se você, vendo sua mãe submissa e infeliz, jurou para si mesma não repetir esse modelo (e muito menos passá-lo à sua filha)
Se você se casou por amor
Se vendo que a escolha não foi correta, foi capaz de virar a mesa
Se você enfrentou o descrédito por ser mulher, o desrespeito por sua juventude ou beleza e a discriminação por ser desquitada
Se você, sendo dona do seu nariz, provou que podia fazer escolhas maduras e amar de verdade
Se você criou os filhos que teve dividida entre os afazeres domésticos e sua profissão, sem que isso os afetasse (tanto)
Se você ensinou a eles o amor próprio e o respeito ao outro
Se você cruzou a linha divisória entre a submissão e a liberação dos tabus
Se você provou por “a” mais “b” que foi capaz de lutar e chegou lá... exatamente onde está
Se você hoje pinta os cabelos e as rugas modificaram a sua fisionomia
Se a sua memória já lhe trai
Se você viu as formas do seu corpo se arredondando com o passar do tempo
Se você faz reposição hormonal
Se você sonha com a aposentadoria
Se você, tendo ou não um companheiro de verdade a seu lado, leva uma vida coerente e feliz
Se você, vendo os filhos partirem, deixou-os ir com bondade, e, embora triste, descobriu novos interesses
Se você ainda é capaz de se encantar, de se emocionar ou de ajudar alguém
Se você já aprendeu a se permitir o prazer sem culpa
Se você aceitou amadurecer com sabedoria e não se endureceu pelas desilusões da vida
Se você viveu grande parte dessas verdades, você é uma das nossas...
Somos uma geração de mulheres que abriu um caminho na selva do preconceito, virou o jogo e provou que é possível ser mulher e ser feliz!
Que as mulheres que nos sucederam possam reconhecer a nossa luta!
Orgulhemo-nos de nós!

Angela Nabuco

2 comentários:

  1. Olá Ângela, estou conhecendo agora teu blog e gostei muito do conteúdo. Espero passar sempre por aqui para ler bons textos.

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  2. Rico, passe sempre, será um prazer!
    Angela

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