quinta-feira, 14 de maio de 2009

ferida exposta

Braços abertos para o mergulho, deve ter voado antes de se esborrachar no chão. O êxtase, e depois a dureza da calçada. Passarinho humano de babydoll - intimidade e dor expostas ao público. A multidão se aglomerava construindo um enredo. Todos falavam baixo, em respeito. Estava morta. A policia chegou arrebentando o silêncio com a sirene e o papel de prata cobriu o corpo, ocultando a cara feia da morte. Horas depois, nada mais havia no lugar. Não havia sangue no chão, as pessoas passavam no ir e vir das cidades. Ali não esteve um corpo. Nunca, naquela calçada revestida de pedra portuguesa.

Angela Nabuco

Nenhum comentário:

Postar um comentário